segunda-feira, 21 de julho de 2014

DINHEIRO, O SERVIDOR

“Disse-lhes o Senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel sobre, muito te colocarei”. – Jesus.
(Mateus, 25:23)

“A pobreza é para os que a sofrem a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação”.
(ESECap. 16, 8.)

O dinheiro é semelhante a alavanca suscetível de ser manejada para o bem ou para o mal.
Acorrentado ao poste da avareza, produz o azinhavre da sovinice, contudo, sob a inspiração do trabalho, é o lidador fiel que assegura os frutos do milharal e as paredes da escola, a cantiga do malho e a força da usina.
Atrelado ao carro do orgulho, é o estimulante do erro, mas, na luz da fraternidade, é o obreiro da renovação incessante, enriquecendo o solo e construindo a cidade, desdobrando os fios do atendimento e garantindo os valores da educação.
Aferrolhado no cofre da ambição desvairada, é o inimigo da evolução, todavia, endereçado à cultura, é o agente do progresso, auxiliando o homem a solucionar os enigmas da enfermidade e a resolver os problemas da fome, a compreender os mecanismos da natureza e a inflamar o esplendor da civilização que analisa a terra e vasculha o firmamento.
Detido na sombra do egoísmo, é o veneno que promove a secura do sentimento, no entanto, confiado à caridade, é o amigo prestimoso que desabotoa rosas de alegria no espinheiral da provação, alimentando pequeninos desamparados e sustentando mães esquecidas, levantando almas abatidas que o infortúnio alanceia e iluminando lares desditosos que a necessidade escurece.
Dinheiro! Repara o dinheiro! Dizem que ele é o responsável pelo transeunte que a embriaguez atira à calçada, pelo delinquente escondido nas aventuras da noite, pelo irmão infeliz que anestesiou a consciência na cocaína e pela mão insensível que matou a criancinha no claustro materno, entretanto, por trás da garrafa e da arma delituosa, tanto quanto na retaguarda do entorpecente e do aborto, permanece a inteligência humana, que escraviza a moeda à criminalidade e à loucura.
Contempla o dinheiro, pensando no suor e no sangue, na vigília e na aflição de todos aqueles que choraram e sofreram para ganhá-lo e vê-lo-ás por servidor da felicidade e do aprimoramento do mundo, a rogar em silêncio para que lhe ensines a realizar o bem que lhe cabe fazer.

Emmanuel (Espírito). Livro da Esperança. (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Uberaba: Comunidade Espírita Cristã. Capítulo Quarenta e Quatro.

domingo, 6 de julho de 2014

Equilibrando o Ser: 5 maneiras de equilibrar o seu Chakra da Coroa

Equilibrando o Ser: 5 maneiras de equilibrar o seu Chakra da Coroa: O chacra coronário é sua conexão com o mundo espiritual, bem como sua conexão com o seu eu mais profundo. É o portal da espirit...

EXERCÍCIO DE LIMPEZA E PURIFICAÇÃO DOS CHAKRAS

http://youtu.be/R57wXiNisZk

sexta-feira, 4 de julho de 2014


Melancolia

"Pululam em torno da Terra os maus Espíritos em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A GÊNESE - Capítulo 14º - Item 45.
Expulsa a melancolia da tua alma, essa hóspede teimosa que te envolve no dossel de mil amarguras, segredando desânimo e desassossego.
Ninguém está a sós na sua dor.
Melancolia é também enfermidade ou síndrome de obsessão.
Olhos vigilantes contemplam tua aflição; ouvidos discretos registram os apelos da tua soledade.
Há muitos que, acompanhados, caminham em indescritível solidão e há solitários que, seguindo, recebem a contribuição de acompanhantes afervorados.
Não suponhas que as lágrimas estanques em teus olhos afoguem todas as tuas esperanças, considerando que muitos olhos incapazes de filtrar o raio luminoso se apagaram, experimentando nas lágrimas o doce banho de refazimento.
Sai do casulo do "eu" e analisa as chagas expostas da humanidade em desalinho e não te atrevas a desconsiderar a misericórdia divina, que coloca bálsamo nas feridas ocultas do teu coração.
Estuga o passo na desabalada jornada do desespero.
Detém o corcel das tuas aflições e faze a viagem de volta ao oásis da confiança divina.
Além de ti, na véspera ensolarada, o lírio medra esguio e solitário, embalsamando o ar para sofrer o colibri aligeirado que lhe rouba néctar e conduz o pólen que o reproduz adiante!
Longe da tua dor há dores salmodiando sinfonias inarticuladas de resignação.
Se não podes submeter-te ao imperioso testemunho que te vergasta, dobra-te sobre o assoalho da paciência e aguarda a madrugada do porvir.
A noite que faz dormir os seareiros operosos, desperta vigilantes para as tarefas noctívagas.
Há esplendor em toda a parte para quem deseja descobrir tesouros nas estrelas fulgurantes no crepe noturno.
Espera mais, alenta o bom ânimo!
A característica da fraqueza é a fragilidade de forças no ponto vulnerável do sofrimento.
Rogaste, antes do mergulho carnal, a alta concessão do testemunho em soledade, em abandono, sem parentes.
Agora, lembra-te de Jesus, e em todas as tuas horas reparte da mesa rica das aflições as pequenas quotas dos teus rápidos sorrisos com aqueles cuja boca se entorpeceu na inanição e não na podem abrir para entoar melodias de alegre esperança.
Esparze a quota do teu suor, enxugando suores que não encontram sequer uma toalha gentil em mãos compassivas para lhes coletar as bagas.
Se desejas sucumbir, porém, ao peso egoísta da inflamação dos teus desencantos doa-te ao Mártir Galileu e torna a tua vida, considerada morta, um verdadeiro sendeiro sublimante para aqueles que desejam viver e sobreviver e não possuem combustível que lhes alimente a chama da jornada carnal.
Enxuga as tuas lágrimas e busca aquele Consolador preconizado por Jesus, que viria restabelecer a verdade na Terra, e ficaria, em Seu nome, ao lado dos homens até a consumação dos evos.
Abraçado a esse sublime consolo da Doutrina Espírita, que te amplia, além dos horizontes da vida, as perspectivas da eternidade, sonha com o teu amanhã ridente e confia no reencontro mais tarde, depois que as sombras da morte se abatam sobre tuas células cansadas e o sol glorioso da vida te aponte o céu sem fim da felicidade.
FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 58.
* * * Estude Kardec * * *

Meditação para Saúde Mente, Corpo e Alma.

http://youtu.be/oGD1hb9jlJQ

La ilusión del Yo

Domingo, 12 de Mayo 2013

Conferencia pronunciada por Francisco J. Rubia en la Real Academia Nacional de Medicina (Madrid) el 7 de mayo de 2013.


La ilusión del Yo
Estamos tan familiarizados y satisfechos con la experiencia de nuestro yo que preguntarse si realmente ese yo existe parece como si fuese la pregunta de un retrasado mental. Y sin embargo la neurociencia moderna se plantea esa cuestión precisamente, a saber que el yo, como ya decía la filosofía hindú hace más de tres mil años, es maya, palabra del sánscrito que significa engaño, ilusión o lo que no es. 
En la filosofía védica se acuñó la palabra Ahamkara, palabra compuesta de Aham, que significa “yo” y kara que designa todo aquello que ha sido creado. El yo sería una construcción ilusoria que aísla al sujeto de su entorno haciéndole creer que tiene una autonomía que no es real. 
Como dice la psicóloga británica Susan Blackmore, la palabra ilusión no significa que no exista, existe como fruto de la actividad cerebral que al parecer genera esa ilusión en nuestro propio beneficio.
Cuando nos levantamos por la mañana nuestro yo se despierta unido a la consciencia. Vuelven los recuerdos del día anterior y los planes para el futuro. En una palabra: nos convertimos en esa persona que identificamos con la palabra “yo”. Todos nosotros tenemos la impresión subjetiva de que dentro de nosotros se esconde la persona que llamamos “yo” y que recibe todas las sensaciones, toma todas las decisiones, recapacita, planifica, aprueba o rechaza. Es como una especie de homúnculo (Diapositiva 2) que controla todas las funciones cerebrales.

El filósofo estadounidense Daniel Dennett (Diapositiva 3) llamó a este proceso el Teatro Cartesiano, es decir, una especie de quimera de que en alguna parte del cerebro existe un lugar donde todos los sucesos mentales convergen y son experimentados.
En el siglo XVIII, el filósofo escocés David Hume (Diapositiva 4) ya dijo que no había ninguna prueba de que ese lugar existiese. Además se ha argumentado que la existencia de un homúnculo requeriría otro homúnculo dentro del primero y así sucesivamente.
David Hume decía: “Por mi parte, cuando entro más íntimamente en lo que llamo mí mismo (myself) siempre tropiezo con alguna percepción particular de calor o frío, luz o sombra, amor u odio, dolor o placer. En ningún momento puedo nunca cogerme a mí mismo sin una percepción, y nunca puedo observar nada excepto la percepción. Cuando desaparecen mis percepciones por algún tiempo, como cuando estoy profundamente dormido, durante tal tiempo estoy insensible a mí mismo y puede en verdad decirse que no existo”.
Como vemos, para Hume el yo no es más que un haz de percepciones. Veinticuatro siglos antes Gauthama Buda había llegado a la misma conclusión.
Naturalmente existe la hipótesis de un ente inmaterial, al que se le ha llamado alma, que controlaría todas las funciones cerebrales. El problema es que con ella no resolvemos nada.
Primero, porque el dualismo cartesiano siempre tuvo problemas para explicar cómo un ente inmaterial es capaz de mover la materia cerebral sin tener energía, lo que violaría las leyes de la termodinámica. En segundo lugar, porque la hipótesis del alma nos da una explicación, pero invalida cualquier investigación ulterior ya que la creencia en ella hace superfluo cualquier esfuerzo por conocer cuáles son las razones y los mecanismos de lo que hemos llamado la ilusión del yo.
Además, la hipótesis del alma no es una hipótesis científica porque no es ni confirmable ni falsable, siguiendo los criterios del filósofo austriaco Karl Popper.
No tenemos ninguna prueba de la existencia de algo permanente en nosotros mismos. Todo lo que nos rodea y todo lo que somos, biológicamente hablando, es efímero y perecedero.
Si el yo es la suma de nuestros pensamientos y acciones, entonces ese yo es fruto de la actividad cerebral. Lesiones cerebrales graves pueden producir un cambio de personalidad, y el mismo efecto puede tener lugar con la ingesta de drogas.
A pesar de que el yo sea un producto cerebral no existe ningún lugar en el cerebro en el que pueda localizarse. Muy probablemente, nuestro cerebro crea la experiencia del yo a partir de una multitud de experiencias, tanto las que llegan a través de nuestros sentidos como las que hemos almacenado en nuestra memoria.
Sabemos que el cerebro construye un modelo del mundo exterior y que teje las experiencias para formar una historia coherente que le permita interpretar y predecir futuras acciones.
Generamos una simulación del mundo exterior para anticipar lo que vamos a hacer en él en el futuro y, de esa manera, asegurar la supervivencia. Esa sería la razón por la que preferimos un modelo de la realidad antes que la realidad misma.
No tenemos una conexión directa con la realidad, como ya dijo el filósofo alemán Immanuel Kant (Diapositiva 5). Kant afirmaba que incluso antes de que haya un pensamiento, antes de que podamos conocer algo sobre el mundo o sobre nosotros mismos tiene que haber un yo unificado como sujeto de la experiencia. Colocó ese yo unificado y primordial en el centro de su propia filosofía y argumentaba que ese yo interno creaba coherencia y prestaba ayuda a nuestra experiencia y nuestra percepción.
Hoy sabemos que todo lo que experimentamos se procesa en patrones de actividad neural que conforman nuestra vida mental. Y no tenemos ninguna conexión directa con la realidad exterior. Vivimos, pues, en una realidad virtual.
La filosofía hindú también considera la realidad exterior como maya, ilusión. Ya en el pasado se conocía que las llamadas cualidades secundarias dependían del sujeto que las experimentaba, como afirmaba Descartes. Y el filósofo napolitano Giambattista Vico (Diapositiva 6) lo expresa claramente en su libro La antiquísima sabiduría de los italianos de la manera siguiente: “si los sentidos son facultades, viendo hacemos los colores de las cosas, degustándolas, sus sabores, oyéndolas sus sonidos, y tocándolas, hacemos lo frío y lo caliente”.
Solo conocemos lo que percibimos
El filósofo empirista irlandés, el obispo George Berkeley (Diapositiva 7), decía que sólo conocemos lo que percibimos, de manera que sus contemporáneos discutieron si cuando caía un árbol en el bosque y nadie estuviera presente para escucharlo haría algún ruido. Por lo que hoy sabemos no habría ningún ruido, ya que el sonido no es ninguna cualidad de la realidad absoluta, sino sólo de la nuestra. Los colores, los sonidos, los gustos y los olores no existen ahí afuera, sino que son atribuciones de nuestra mente. Ahí afuera no existen más que radiaciones electromagnéticas de distintas longitudes de onda que incidiendo sobre nuestros receptores producen potenciales eléctricos, los potenciales de acción, que son todos iguales provengan del ojo, del oído, del gusto, del olfato o del tacto. Es en las distintas regiones de la corteza donde se atribuyen las cualidades secundarias. De ahí que la lesión de la región cortical donde se procesa la visión cromática tenga como resultado que el paciente se vuelva acromático y no sólo no vea colores sino que ni siquiera sueñe con ellos.
En la construcción de ese mundo interior, si falta alguna información, el cerebro la suple para generar una historia plausible aunque no sea completamente exacta.
De la misma manera, el cerebro crea el yo consciente, aunque aún no sepamos cómo, y a partir de la actividad neuronal se pasa a un concepto tan abstracto como ese. El yo sería una construcción ilusoria que aísla al sujeto de su entorno haciéndole creer que tiene una autonomía que no es real. Tanto lo que llamamos yo como consciencia son construcciones cerebrales que encierran el gran problema de la neurociencia, a saber, cómo se pasa de la actividad neuronal a las impresiones subjetivas. Es lo que el filósofo australiano David Chalmers (Diapositiva 8) ha llamado el “problema difícil” de la consciencia. El paso de lo objetivo a lo subjetivo.
¿Qué sentido tendría esa ilusión del yo? Se ha argumentado que la razón es simplemente la función de predecir la conducta de los otros. Si creo que dentro de mí existe una persona que se comporta como cualquier otra, puedo predecir el comportamiento de los demás observando esa persona dentro de mí. La autoconsciencia sería, pues, el invento del yo para saber qué harán los otros.
El neurólogo indio afincado en Estados Unidos Vilayanur Ramachandran (Diapositiva 9) cree que el yo no es una propiedad holística de todo el cerebro, sino que surge de la actividad de series de circuitos que están distribuidos por todo el cerebro e interconectados entre sí.
El pionero de la inteligencia artificial, Marvin Minsky (Diapositiva 10), dice que la auto-consciencia es un segundo mecanismo paralelo desarrollado para generar representaciones de otras representaciones más antiguas.
Y el psicólogo inglés, Nicholas Humphrey (Diapositiva 11), supone que nuestra capacidad de introspección puede haberse desarrollado específicamente para construir modelos de la mente de otras personas para poder predecir su conducta.
Esta última afirmación nos llevaría a relacionar la auto-consciencia con las neuronas espejo, de las que informé hace dos años en este mismo lugar, que nos permiten “reflejar” en el cerebro actos motores, pero también emociones e intenciones de los demás. En esto también está Ramachandran de acuerdo.
Habría que preguntarse si existe sólo un yo. No hace tanto tiempo se buscaba afanosamente la memoria, asumiendo que era una sola entidad. Hoy sabemos que hay distintos tipos de memoria con distintas localizaciones en el cerebro.

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Varios tipos de inteligencia
Lo mismo ha ocurrido con la inteligencia, y hoy se definen varios tipos de inteligencia. Por ello hay que preguntarse si no ocurrirá lo mismo con el yo. Ramachandran habla, por ejemplo, de diversos yos, o al menos de distintos aspectos del yo, como por ejemplo el sentido de unidad, la multitud de sensaciones y creencias, el sentido de la continuidad en el tiempo, el control de las propias acciones (esto último relacionado con el tema de la libertad o libre albedrío), el sentido de estar anclado en el cuerpo, el sentido de la propia valía, dignidad y mortalidad o inmortalidad. Cada uno de estos aspectos puede estar mediado por centros diferentes en distintas partes del cerebro y que, por conveniencia, los agrupamos a todos en una sola palabra: yo. Precisamente el aspecto más extraño de todos: el ser consciente de uno mismo es lo que Ramachandran supone que depende de las neuronas espejo.
Hay casos clínicos que muestran que existen muchas regiones cerebrales que juegan un papel en la creación y mantenimiento del yo, pero no existe ningún centro en donde se reúna todo físicamente.
Aparte del lóbulo frontal, donde se descubrieron estas neuronas por vez primera, existen numerosas neuronas espejo en el lóbulo parietal inferior, una estructura que ha experimentado una gran expansión en los grandes simios y en el hombre. Esta región se dividió en dos giros: el giro supramarginal (Diapositiva 12) que nos permite “reflejar” nuestras acciones anticipadamente, y el giro angular, que nos permite “reflejar” nuestro cuerpo, en el hemisferio derecho, y otros aspectos sociales y lingüísticos del yo en el hemisferio izquierdo.
La hipótesis de la relación de estas neuronas con la auto-consciencia supondría que utilizamos las neuronas espejo para mirarnos a nosotros mismos como si alguien lo estuviera haciendo. Y el mismo mecanismo que se desarrolló para adoptar el punto de vista de otro se volvió hacia adentro para mirar el propio yo. De manera que “auto-consciente” sería ser consciente de otros siendo consciente de mí mismo.
Que el yo unificado puede ser una construcción cerebral lo muestran los experimentos realizados por Roger Sperry (Nobel 1981) y Michael Gazzaniga (Diapositiva 13) en sujetos con cerebro escindido o dividido. En pacientes que sufrían de epilepsia, con un foco en un hemisferio, y para evitar que se crease un “foco especular” en el otro hemisferio, cirujanos norteamericanos hace unas décadas seccionaban el cuerpo calloso e incluso en algunos pacientes también la comisura anterior.
Los experimentos mostraron que al hacerlo los cirujanos partieron literalmente en dos el yo, ya que aparecieron dos personas distintas con gustos y aficiones diversas y a veces contradictorias. En estos pacientes podía ocurrir que una mano abriese un cajón y la otra intentase cerrarlo.
Preguntado el hemisferio no parlante de uno de estos sujetos, generalmente el derecho, que qué profesión quería ejercer en el futuro, respondió, mediante la utilización de letras del juego Scrabble, que quería ser corredor de fórmula uno, cuando el hemisferio parlante había siempre afirmado querer ser diseñador gráfico (Diapositiva 14, 15). Y el neurólogo Ramachandran tuvo un paciente que respondía con el hemisferio izquierdo creer en Dios y con el hemisferio derecho ser ateo.
La división de las conexiones entre los dos hemisferios había creado un segundo yo hasta ahora desconocido porque el yo del hemisferio dominante o parlante se había considerado el único.
Uno de los resultados más sorprendentes de estos experimentos fue la capacidad de interpretación del hemisferio izquierdo de la conducta iniciada por el hemisferio derecho. Si se le enviaba una señal al hemisferio derecho que decía “andar”, el sujeto se ponía en marcha. Y preguntado el sujeto verbalmente que por qué lo hacía, el hemisferio izquierdo parlante respondía que iba a buscar una coca-cola, cualquier otra excusa o simplemente que tenía ganas de hacerlo.
Este fenómeno es algo parecido a lo que ocurre cuando se hipnotiza a una persona y se le ordena, ya hipnotizado que ande a cuatro gatas por la alfombra. Si en ese momento el hipnotizador lo despierta y le pregunta qué hace andando a cuatro gatas, el sujeto puede responder que porque se le había caído una moneda.
El hemisferio izquierdo, cuando no conoce las razones de la conducta del organismo se inventa una historia plausible para interpretarla. En otras palabras: para ese yo del hemisferio izquierdo una historia plausible, pero falsa, es mejor que ninguna.
Esta capacidad que llevó a su descubridor Michael Gazzaniga a llamar al cerebro dominante “el intérprete” se ve aún más claro en el siguiente experimento (Diapositiva 16).
Si se le proyecta a uno de estos pacientes un paisaje nevado al hemisferio derecho y la cabeza de una gallina al hemisferio izquierdo y luego se le pide que elija con cada mano entre varias imágenes que se les proyecta la que estuviese más relacionada con lo que habían visto, la mano derecha, controlada por el hemisferio izquierdo elegía una gallina y la mano izquierda, controlada por el hemisferio derecho, una pala.
Pero si se le preguntaba al paciente que por qué había elegido con la mano izquierda una pala respondía que para limpiar la porquería del gallinero.
Para el yo izquierdo, repito, es mejor tener una historia plausible, aunque sea falsa, que no tener ninguna. La capacidad de suplir información que falta por parte del cerebro es lo que constituye los engaños tanto ópticos como de otro tipo a los que estamos acostumbrados. Pensemos, por ejemplo, cómo el cerebro cubre la información que falta en aquella parte de la retina que no tiene receptores visuales por la salida del nervio óptico, es decir, la mancha ciega que no se traduce en un escotoma en el campo visual.
Antes hablamos de casos clínicos en los que se produce una fragmentación del yo o la pérdida de uno de sus aspectos.
Uno de estos casos es la asomatognosia, o la falta de reconocimiento de una parte del cuerpo, que suele ocurrir tras una apoplejía con extensas lesiones de la corteza cerebral. La asomatognosia es una fragmentación del yo.
Otro ejemplo es el síndrome de negligencia hemiespacial, que ocurre por lesiones del lóbulo parietal derecho, en el que el paciente ignora, o más bien no atiende, a la mitad izquierda de su campo visual.
Otro síntoma que afecta al yo personal es la anosognosia, o negación de la enfermedad. Un caso especial de anosognosia es el síndrome de Anton, o inconsciencia de la ceguera. Gabriel Anton (Diapositiva 17) describió uno de los primeros ejemplos de falta de consciencia de la ceguera en 1899.
Generalmente, las tres condiciones: asomatognosia, negligencia hemiespacial y anosognosia suelen ocurrir juntas por lesiones del hemisferio derecho.
Los límites del yo personal son más dinámicos que rígidos Hay cosas ego-cercanas, como el propio cuerpo, la mujer o el marido, los miembros de la familia. Por otra parte, los objetos que no tienen un significado especial para nosotros son considerados ego-distantes.
Ejemplos de alteraciones de las relaciones del yo son los fenómenos conocidos como déjà vu y jamais vu, o sea ya visto y jamás visto, en los que el paciente tiene la impresión de haber visto ya algo que no ha podido ver antes, o lo contrario, la impresión de no haber visto nunca algo que sí conoce. Esto está en relación con el sentido de familiaridad, sentido emocional que depende del sistema límbico, concretamente de la amígdala.
El individuo sano tiene una relación integrada y normal con el mundo. Nuestras relaciones con el mundo y con otras personas están en un equilibrio delicado y ese equilibrio se mantiene de manera automática e inconsciente. No somos conscientes de él hasta que no es violentado.
El síndrome de la ilusión
En 1923, el psiquiatra francés Jean-Marie Joseph Capgras (Diapositiva 18) describió un caso, el de Madame M., una mujer de 53 años que se quejaba que impostores habían sustituido a su marido, a sus hijos e incluso a ella misma. Su marido había sido asesinado y los impostores lo habían sustituido por otra persona. A este fenómeno lo llamó “l’illusion de sosies’. Sosia es en español una persona que se parece tanto a otra que es confundida con ella. El nombre proviene de la mitología griega en la que se cuenta la historia de Zeus que se transformó físicamente en la persona de Anfitrion para seducir a su mujer Alcmena. Temeroso de que la criada de Alcmena, Sosia, la alertase del engaño, hizo que Hermes se convirtiese en Sosia. El engaño tuvo éxito y Alcmena dio a luz a dos mellizos: uno, hijo de Zeus: Hércules; el otro, hijo de Anfitrion: Iphicles. De ahí que el nombre sosie signifique en francés doble.
El síndrome de Capgras está probablemente generado por la pérdida de la conexión entre el reconocimiento de caras, localizado en el giro fusiforme (Diapositiva 19), y el sistema límbico, especialmente la amígdala que le da significación emocional a los estímulos sensoriales. El paciente reconoce las caras, pero no son familiares para él, por lo que supone que son impostores o dobles.
Cuatro años tras la publicación del síndrome de Capgras, dos médicos franceses, Courbon y Fail, publicaron un artículo titulado: “El síndrome de la ilusión de Frégoli y la esquizofrenia”. Courbon y Fail le dieron este nombre por Leopoldo Frégoli, famoso actor italiano en Francia por su extraordinaria capacidad de imitación. Estos pacientes encontraban a personas a su alrededor conocidas, aunque nunca las habían visto antes, es decir, lo contrario que los pacientes con síndrome de Capgras. El síndrome de Frégoli puede interpretarse como una super-relación con otras personas y en ese sentido se parece al fenómeno del déjà vu.
Los límites del yo son maleables, no son rígidos. Al yo se le ha comparado con una ameba que cambia su forma y sus márgenes. Un ejemplo de ello es lo que ocurre con los experimentos que utilizan una mano de goma (Diapositiva 20). Si se oculta la mano izquierda de un sujeto y se acarician simultáneamente la mano izquierda y la mano de goma con un punzón o pincel, al cabo de unos minutos el sujeto siente que la mano de goma forma parte de su cuerpo. La fusión de la información táctil y visual en el cerebro crea esa ilusión.
Las memorias de todas las experiencias de la vida son muy importantes para la creación y mantenimiento del yo. Nuestra identidad es la suma de nuestros recuerdos, pero esos recuerdos se modifican por el contexto en el que se producen y, a veces, simplemente son confabulaciones. Con otras palabras: no podemos fiarnos completamente de ellos, de manera que el propio yo queda en entredicho. Por otra parte, sin un sentido del yo los recuerdos no tienen ningún sentido y, sin embargo, ese yo es un producto de nuestros recuerdos.
Personalmente pienso que existen al menos dos tipos de yo o de consciencia: una a la que llamo “consciencia egoica”, que es la consciencia normal que solemos tener en la vigilia, aunque haya también diversos niveles, y que se caracteriza por un pensamiento dualista característico de nuestra capacidad lógico-analítica. Y una segunda consciencia que llamo “consciencia límbica” que es la que nos permite acceder a una especie de “segunda realidad”, que es a la que llega el chamán, o el místico, mediante ciertas técnicas y que genera la sensación de trascendencia. La llamo consciencia límbica porque se debe a la hiperactividad de determinadas estructuras límbicas que se encuentran en la profundidad del lóbulo temporal. Su estimulación eléctrica o magnética es capaz de producir experiencias llamadas espirituales, religiosas, numinosas o de trascendencia. Ambas consciencias son antagónicas y una condición para que se produzca esta última es la anulación de la consciencia egoica, algo que conoce hace siglos la filosofía oriental.
Es de suponer que la consciencia egoica es dependiente de estructuras cerebrales filogenéticamnete más modernas, como la corteza prefrontal y la corteza cingulada anterior, mientras que la consciencia límbica supone la dependencia de estructuras más antiguas pertenecientes al cerebro emocional o sistema límbico.
En resumen: el yo, como construcción cerebral, no tiene una localización exacta en el cerebro y es posible que existan distintos tipos de yo o de consciencia. Sus límites no son fijos y tanto ciertos experimentos como la patología nos muestra su fragilidad. Llama la atención el hecho de que atribuyamos al yo la mayoría de la actividad cerebral, cuando en realidad el yo racional es una instancia tardía en comparación con el inconsciente que gobierna la inmensa mayoría de nuestra actividad cerebral al servicio de la supervivencia.
Falta conocer por qué es generado ese yo unificado por el cerebro, y cuál es su función.
Gracias por su atención (Diapositiva 21)

Bibliografía
Dennett, D. Consciousness explained Little Brown and Co. Boston, 1991
Feinberg, T. E. Altered Egos. How the Brain Creates the Self Oxford University Press Oxford, 2001
Hood, B. The Self Illusion: Why There es no “You” Inside Your Head Constable & Robinson Ltd. London, 2012
Metzinger, T. The Science of the Mind and the Myth of the Self Basic Books New York, 2009
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O EGO E O ID (1923)

A segunda tópica

Andréa Martello
 
O panorama que se apresenta para o ego após a inferência da pulsão de morte passa a ser melhor configurado na segunda tópica. A pulsão é incluída no aparelho psíquico como a instância do id que marcará todo o funcionamento das outras instâncias: ego e superego. O aparelho psíquico será regido fundamentalmente pelo que é da ordem do pulsional ressaltando, desse modo, o aspecto econômico da metapsicologia como o mais relevante, submetendo a ele o aspecto tópico e o dinâmico.
A frágil condição do ego frente à compulsão à repetição bem como o esclarecimento do mecanismo de identificação formam os dois princípios básicos desta segunda tópica, ou seja: pulsão e identificação.
A característica fundamental da primeira tópica era a de colocar o ego numa vinculação estreita com a consciência, ou sistemaconsciente (Cs.), representando a instância recalcante por excelência. O movimento de Freud se encaminha para uma destituição cada vez maior da consciência em prol da dinâmica do inconsciente (cf. processo primário e processo secundário) a ponto de nos dizer que temos de admitir que a característica de ser inconsciente começa a perder significação para nós (Freud, S., 1923, p. 30).
Essa destituição se fará tanto para a consciência, entendida como sistema Cs. (Bewusstsein), quanto para a consciência em seu aspecto moral (Gewissen), de discernimento do que é certo, e portanto, culpabilidade, remorso, no desvio disto que é dado como o certo. O primeiro aspecto desta destituição será visto no exame daquilo que estrutura o ego, e o segundo aspecto com o exame da instância superegóica.
Freud subverte a concepção que liga as atividades mais nobres do psiquismo à consciência (Cs.) e à moral, mostrando-nos, primeiro, uma inteligência inconsciente que prescinde de qualquer atributo consciente para realizar articulações complexas e eficazes tais como o sonho, o ato falho, a repetição, o recalque e, segundo, subvertendo a construção que nos foi articulada com o ideal do ego em Psicologia das massas e análise do ego (Freud, 1921).
Neste texto, o investimento pulsional do narcisismo dava origem ao ideal do ego que, por sua vez, era articulado com os ideais de perfeição da cultura, produzindo com isto um núcleo de moralidade dentro do ego, um guardião da moral externa. Se por um lado esses ideais, em última instância, eram produzidos por um investimento pulsional excedente do narcisismo, por outro adquiriam uma certa autonomia por se vincularem à cultura, tornando-se deste modo uma instância superior de caráter recalcante para os investimentos pulsionais. A crítica desta estrutura consistia na denúncia de que esses ideais moralizantes advinham do elemento libidinal que constitui o psiquismo, não representando, deste modo, um discernimento superior de conduta, mas, antes, podendo ser subvertidos de acordo com o investimento libidinal.
O superego será pensado de forma totalmente original com relação ao ideal do ego de 1921. A estrutura do superego se apresenta com características bem marcantes e específicas que darão potência a problemas clínicos há muito expostos por Freud, tais como: a resistência, o sentimento de culpa inconsciente e a reação terapêutica negativa. O superego será pensado acima de tudo sob a perspectiva da incidência da pulsão de morte sobre o ego.
1 - A estrutura do ego
Na segunda tópica, o ego será uma instância marcada por três aspectos fundamentais:

1 - A paradoxal inferência de um 'sentimento inconsciente de culpa' - posto que por definição os sentimentos têm acesso direto ao sistema consciente (Cs.) - contribui para a destituição do critério da consciência como sendo o de uma atividade mental de natureza extremamente elevada. O sentimento inconsciente de culpa acarreta uma autocrítica e uma 'conscienciosidade' que no processo analítico se mostram inconscientes e inconscientemente produzem efeitos da maior importância (Freud, 1923, p. 41).

A natureza inconsciente da consciência moral reduz o papel da consciência enquanto sistema privilegiado do ego e define deste modo o ego consciente como sendo primeiro e acima de tudo um ego corporal (Freud, 1923, p. 41). A consciência (Cs.), a percepção a ela vinculada (n.1) e o acesso à motilidade formarão o núcleo do ego e o modo privilegiado pelo qual ele se diferencia do id. Esses aspectos farão do ego a instância responsável pelo teste de realidade (Freud, 1923, p. 72). Temos então, no que se refere à ligação entre o ego e a consciência, uma definição mais precisa na medida em que o ego consciente se define como um ego corporal, e o ego em sua estrutura geral (já que a ligação com a consciência não esgota sua definição) se define como uma projeção psíquica do ego corporal (Freud, 1923, p.40).

2 - O segundo aspecto fundamental da estrutura do ego foi derivado do esclarecimento do mecanismo melancólico de substituição do investimento objetal por uma identificação. O que antes era atribuído à melancolia e à neurose, é, portanto, ampliado e passa a determinar em grande parte a forma tomada pelo ego e que Freud designa com o nome de 'caráter'.

Dizer que o investimento libidinal do objeto é substituído pela identificação implica afirmar uma anterioridade deste investimento pulsional (ou seja, da instância do id) sobre a estruturação do ego pela via das identificações. O ego se desenvolve de um id indiferenciado. Reformula-se então a teoria do narcisismo afirmando que de início toda a libido está acumulada no id onde o ego tenta apoderar-se da libido que o id envia aos objetos: o narcisismo do ego é, assim, um narcisismo secundário, que foi retirado dos objetos (Freud, 1923, p.62). Temos então: "que o caráter do ego é um precipitado de catexias objetais abandonadas e que ele contém a história dessas escolhas de objeto" (Freud, 1923, p. 43-44).

A idéia fundamental que aqui é colocada diz respeito a caracterizar o investimento narcísico como uma retirada do investimento que era anteriormente dirigido aos objetos. Esse aspecto fornece ao processo de substituição de um investimento por uma identificação seu caráter de defesa, que será a principal característica do ego. A identificação será aquilo por meio do qual o ego tentará adquirir algum controle sobre os investimentos pulsionais. Ao se identificar com os objetos, o ego inibe o investimento real de tais objetos. No entanto, oferecer-se ao id como substituto do objeto, inibe o investimento real mas não cancela a exigência pulsional que então recairá sobre o ego.

O limite para a submissão do ego ao investimento pulsional é argumentado por Freud pela idéia temporal de um ego inicialmente fraco que se submete ao investimento objetal e que tem na identificação com esses objetos o único meio de influenciar o id no sentido de um abandono do investimento objetal. Posteriormente um ego mais fortalecido seria capaz de resistir à influência dos investimentos objetais e com isso teríamos então para o psiquismo uma situação de conflito mais delineada, ou seja, entre um ego coerente - erigido a partir do mecanismo de identificação - e o investimento pulsional que então sofrerá recalque.

3 - Ao mesmo tempo, se por um lado temos o investimento pulsional como aquilo que permite dar forma ao ego sendo mesmo anterior à ele, temos por outro lado a identificação caracterizada como um processo heterogêneo ao investimento pulsional. Essa heterogeneidade não significa que a identificação seja independente do investimento pulsional mas, apenas, que a natureza de seu mecanismo não é derivada da pulsão. Trata-se de um mecanismo fundamentado de maneira particular que, no entanto, vem se acoplar à questão do investimento pulsional. O privilégio da identificação acaba por dissolver o problema "energético" que nos fora apresentado no texto sobre o narcisismo referente à questão de como o ego sai de sua clausura narcísica, pois o objeto narcísico advém antes de tudo por identificação e não apenas por investimento pulsional.

Acreditamos que a particularidade do mecanismo de identificação se expressa pelo que é paradoxalmente apresentado por Freud em relação à anterioridade, seja da identificação, seja do investimento. O ego foi definido como um precipitado de investimentos objetais que foram abandonados e substituídos pela identificação, sendo este mecanismo a forma mais primordial de controle sobre os investimentos. No entanto a pregnância da primeira identificação se destaca de tal modo que, ao inverso do que foi dito antes, ela se mostra como anterior e autônoma em relação ao investimento objeta (n.2): 
Entretanto, seja o que for que a capacidade posterior do caráter para resistir às influências das catexias objetais abandonadas possa tornar-se, os efeitos das primeiras identificações efetuadas na mais primitiva infância serão gerais e duradouros. Isso conduz de volta à origem do ideal do ego; por trás dele jaz oculta a primeira e mais importante identificação de um indivíduo, a sua identificação com o pai em sua pré-história pessoal. Isso aparentemente não é, em primeira instância, a consequência ou resultado de uma catexia do objeto; trata-se de uma identificação direta e imediata, e se efetua mais primitivamente do que qualquer catexia de objeto. Mas as escolhas objetais pertencentes ao primeiro período sexual e relacionadas ao pai e à mãe parecem normalmente encontrar seu desfecho numa identificação desse tipo, que assim reforçaria a primária (Freud, 1923, p. 47 [grifo nosso] ).













A contradição das afirmativas sobre a anterioridade reflete, na verdade, uma diferença de estrutura daquilo que acontece como investimento e como identificação. Essa diferença não advém apenas, como foi dito antes, num tempo posterior onde um ego forte, já suficientemente constituído não mais se submete aos investimentos do id. Ela se coloca de saída, e disto resultará toda a pertinência e autonomia do superego.

Temos então a estrutura do ego montada sobre três vertentes: o que Freud define como o núcleo, ou seja, a partir da ligação com exterior, através do sistema Pcpt-Cs.; a relação com o id onde a identificação com os objetos pulsionais lhe fornece consistência; e por fim sua relação com o resíduo da identificação como mecanismo primitivo de sua formação: o superego.
Os três aspectos indicam o dinamismo com que as instâncias psíquicas operam na segunda tópica. O que é importante ressaltar é o estatuto particular destinado à instância representada pelo superego.

A consistência do ego advém de uma relação com os objetos do id que, uma vez adquirida, passa a sustentar um dualismo entre ego x id, e portanto uma estrutura de conflito psíquico semelhante ao da primeira tópica (consciência x inconsciente / ego x sexual). Na dinâmica das instâncias, o superego é pensado de forma a relativizar radicalmente o quadro da primeira tópica, fornecendo subsídios para se pensar a dissimetria do psiquismo de forma mais estrutural, onde o superego é tanto um representante do id quanto do mundo externo (Cf. Freud, 1924, p.208).
2 - O superego

Pensar o superego somente a partir do desfecho do complexo de Édipo torna obscura a elucidação de sua incidência. Tal concepção implica pensá-lo como uma identificação com a instância legiferante, uma identificação com o pai como lugar da lei ou da interdição, que por razões obscuras torna-se pulsional. Pensamos que é ao ideal do ego que se aplica tal raciocínio, pois é através de sua incidência que a lei externa é investida e vem se representar no psiquismo.

O tipo de lei que o superego vem representar é fundamentalmente a lei da pulsão em sua característica última e peculiar de relação com o objeto, ou seja, a pulsão enquanto, essencialmente, pulsão de morte. Deste modo a relação entre ego e superego permitirá vislumbrar os problemas que a pulsão de morte acarreta para a teoria do narcisismo.

O que temos que esclarecer é que Freud fornece duas origens para o superego, uma que remonta à identificação primordial (n.3) do ego e a outra derivada do complexo de Édipo. Sem dúvida há um privilégio por parte de Freud em falar do superego como herdeiro do complexo de Édipo, mas foi-lhe, de qualquer modo, necessário postular também uma origem mais arcaica (n.4). Essa origem mais arcaica é que nos permite melhor entender o aspecto pulsional do superego, que de alguma forma fica obscurecido pelo papel de lei ou proibição internalizada que ele vem a representar no desfecho do complexo de Édipo.

É necessário compreender o antagonismo estrutural que a pulsão de morte impõe à teoria do narcisismo e compará-lo com a problemática do complexo de Édipo, para então tentarmos entender a ligação feita por Freud entre a origem arcaica do superego e seu posterior reforço ao término do tal complexo.

As identificações ao término do complexo de Édipo são ressaltadas por Freud, pelo menos em "O ego e o id" (1923), como identificações secundárias, que se assemelham à identificação primordial, e que na verdade apenas a reforçam. A semelhança da identificação final do Édipo com a identificação originária do ego pode ser entrevista em sua diferença em relação àquelas que são referidas aos objetos de amor, ou como nos diz Freud: "essas identificações não são o que esperaríamos, visto que não introduzem no ego o objeto abandonado" (Freud, 1923, p. 47). Mesmo que as identificações ao fim do complexo de Édipo possuam em alguma medida um caráter de assimilação do objeto amado/odiado pelo ego, Freud não deixa de acrescentar a sutileza de que normalmente, o superego se afasta mais e mais das figuras parentais originais; torna-se, digamos assim, mais impessoal (Freud, 1933 [1932], p. 83).

Dar consistência à identificação, ou seja, identificar-se com alguma coisa é o que irá definir o ego como a 'história' de suas identificações, um precipitado de investimentos objetais abandonados. Ao superego cabe atualizar o momento mítico que antecede todo corpo tomado pelo ego na sucessão dos investimentos pulsionais. Sua função parece ser a de manter em suspenso a decantação das identificações por onde o ego vem adquirir consistência, e ao manter em suspenso essa decantação própria ao ego, manter o aspecto pulsional da identificação. A confluência da identificação como mecanismo originário do ego e a dependência intrínseca que esta possui com os objetos fornecidos pelo id é o que define o superego e o caracteriza como uma instância "intermediária" entre a estrutura do ego e as exigências do id.

O exame que Freud faz do humor pode ser um modo onde encontramos esclarecida essa vertente do superego (n.5). Em situações onde se espera que um ego devidamente identificado que diante de determinada situação produza os sinais de um afeto, que fique zangado, se queixe, expresse sofrimento, fique assustado ou horrorizado ou talvez, até mesmo desesperado (Freud, 1927, p. 190). tem-se um tirada humorística que expressa claramente um triunfo do narcisismo, na afirmação vitoriosa da invulnerabilidade do ego (Freud, 1927, p. 190). Neste caso o superego age de forma a permitir que as identificações às quais o ego deva responder fiquem suspensas, retirando o ego da temporização de sua história e lhe permitindo uma suspensão, mesmo que fictícia, de sua consistência.

O caso do humor vem nos mostrar a relação do superego com a identificação na medida em que ela é a matriz do ego e não o próprio ego, sendo neste aspecto que encontramos no texto sobre o humor a indicação do superego como o núcleo do ego (Freud, 1927, p. 192), o núcleo de sua constituição: pulsão e identificação.

Salvo a análise sobre o humor, onde temos em Freud uma abertura para outras possibilidades de se pensar o superego, teremos o exame mais pregnante realizado através do que é possível esclarecer sobre a desvantagem estrutural da instância egóica. Ao contrário da potência narcísica que o humor ressalta, a condição essencial de existência do ego se expressará por um inarredável sentimento de culpa. Na obra de Freud, o sentimento de culpa será a expressão última da irredutível incidência da pulsão.
3 - Pulsão de morte e narcisismo

Da plasticidade da libido se deriva o ego na medida em que ele pode se impor como objeto de amor. O movimento narcísico do ego de retirar libido dos objetos e transformá-la em libido narcísica resultará no que Freud denomina como uma libido dessexualizada. Isso seria possível devido à natureza da satisfação da pulsão sexual onde é fácil observar uma certa indiferença quanto ao caminho ao longo do qual a descarga se efetua, desde que se realize de algum modo (Freud, 1923, p. 60). A libido dessexualizada se caracteriza pelo abandono dos objetivos diretamente sexuais, que por ainda manter uma possibilidade de satisfação, permite a formação do ego.

Mesmo dessexualizada, esta energia ainda é libido na medida em que permanece cumprindo a finalidade de Eros que é a de unir e ligar, na medida em que auxilia no sentido de estabelecer a unidade, ou tendência à unidade, que é particularmente característica do ego (Freud, 1923, p. 61). Apesar de ainda permitir certa satisfação concomitante à possibilidade de formação do ego, essa dessexualização encontra seu limite, e deste limite vemos surgir a exigência superegóica. O superego surge em relação à problemática narcísica enquanto definida como uma dessexualização da libido.

Freud, em "O ego e o id" (1923) no capítulo entitulado As duas classes de pulsões (Freud, 1923,) através do exame do problema da dessexualização da libido no narcisismo, nos apresenta um aparelho psíquico de estrutura assimétrica, onde o superego é o produto da contraditória constituição do ego, ou seja, ele é a prova de verdade sobre a constituição do ego na medida em que ela se dá na íntima relação entre identificação e investimento objetal, e em cujo desenvolvimento posterior o ego tenta impor uma ruptura de elementos tão estritamente ligados. A dessexualização da libido exigida pelo narcisismo impõe a ruptura em relação à sua dependência ao investimento objetal, e o superego é a instância de cobrança desta dívida do ego (n.6).

Mais ainda, o ego tenda reduzir a plasticidade da libido oferecendo objetos específicos que obedeçam à sua coerência. Temos então o aspecto defensivo da identificação visando o controle da satisfação pulsional. Com isso o ego está trabalhando em oposição aos objetivos de Eros (Freud, 1923, p. 61). O superego comparece numa função de abalar as identificações reificadas do ego, ou como Freud nos diz, de um ego fortalecido: o ego que por meio da identificação ganhou controle sobre a libido é punido pelo superego por assim proceder, mediante a instrumentalidade da agressividade que estava mesclada com a libido (Freud, 1923, p. 71-72). Os termos de Freud recaem na hipótese de desfusão pulsional, onde a dessexualização da libido libera o componente de pulsão de morte que a ele estava fundido.

O paradoxo que se coloca como intrínseco à formação do ego diz respeito ao fato de que o narcisismo, em sua tentativa de unidade e coerência, produz em última instância o superego como reduto de incidência da pulsão de morte.

O superego é o representante da pulsão de morte na exata medida de uma identificação inflexível do ego com o objeto, e numa identificação que consista na dessexualização do investimento do objeto. O superego como cultura pura de pulsão de morte (Freud, 1923, p. 69) é encontrado, justamente, com referência à melancolia, que tem como principal característica a remodelação do ego pela via da identificação de acordo com o objeto perdido. A melancolia, que revelou a Freud a estrutura do ego, é aqui novamente usada para elucidar a natureza última do superego, cuja radicalidade pode inclusive levar à morte.
A exigência do superego surge da dessexualização da libido que, por sua vez, é o processo de constituição do narcisismo e, portanto, do próprio ego. Trata-se na exigência superegóica da exigência de uma renúncia impossível de ser cumprida, visto a dependência do ego em relação à libido, de onde resulta a construção de um antagonismo intrínseco ao aparelho psíquico. A existência do ego implica necessariamente na concomitante existência deste estranho agente crítico como testemunha da impostura quanto à autenticidade de sua autonomia. O superego é o último produto da problemática narcísica.

Comparemos a situação do ego na primeira tópica. O narcisismo foi definido como o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autopreservação (Freud, 1914, p. 90), como uma fusão das pulsões sexuais e autopreservativas realizada no momento inaugural do ego e posteriormente (salvo na psicose, neurose e melancolia) separadas o suficiente para que se estabelecesse uma escolha anaclítica de objeto. Na primeira tópica, a pulsão de autoconservação garante a existência e o poder do ego, sendo acrescida de libido no narcisismo, sem no entanto perder uma perspetiva de autonomia no desenvolvimento posterior do ego. A mesma configuração não se apresenta na segunda tópica devido, por um lado, ao novo dualismo pulsional e o radicalismo da pulsão de morte e por outro, ao esclarecimento da identificação, cuja procedência do objeto impõe uma dívida permanente ao ego.

Freud nos diz que o medo da morte é algo difícil de ser pensado na medida em que não há para a morte um registro no inconsciente. Partindo disto, apenas podemos pensar que o medo da morte é uma resistência do ego em abandonar o investimento libidinal narcísico. É de morte narcísica que estamos falando e a condição da relação da pulsão com os objetos exige em parte esta morte, cuja ameaça passa a se exercer através do superego. O preço pago pela constituição do ego se coloca então em termos de um sentimento de culpa, pois é exigido dele renunciar àquilo mesmo que o constitui. Como responder a uma exigência de sexualização da pulsão se a dessexualização é o modo próprio de constituição do ego? Essa é a fonte do sentimento de culpa e o masoquismo será então a resposta mais relevante a este impasse.
4 - O masoquismo e o problema moral

Foi necessário a Freud pensar a pulsão de morte a partir de questões quanto ao sucesso terapêutico da psicanálise. A pulsão de morte traz subsídios para o exame de uma grave questão quanto à clínica analítica na medida em que coloca em xeque a força de um desejo 'natural' de restabelecimento. O que comparece 'além do princípio do prazer', e que foi circunscrito pela instância superegóica na segunda tópica, é enunciado de maneira bastante dramática como O problema econômico do masoquismo (Freud,1925). A pulsão de morte desloca a problemática narcísica para a problemática do masoquismo e é o superego que fornece o modo de exame desta questão. Como produto do narcisismo no novo dualismo pulsional, o superego vem impor essa nova condição ao ego enquanto objeto da pulsão: o masoquismo. A desvantagem narcísica frente à pulsão de morte não pode ser enunciada de forma diferente que não seja através do masoquismo.

Essa inferência passa a colocar grandes questões para a clínica e esclarecer os impasses e limites encontrados pela manobra analítica. A vida e o prazer não são valores que se mantenham perante o desafio analítico.

A estrutura elementar do narcisismo submetido à pulsão de morte pode ser considerado como a primordial condição masoquista que Freud define como masoquismo erógeno (Cf. Freud, O problema econômico do masoquismo, 1924, p. 204). Podemos imputar que a exigência de sexualização do superego primitivo, que de alguma forma coloca como questão a morte do ego, tem como solução o masoquismo, uma tentativa última de obedecer a essa exigência tornando a condição do ego minimamente erotizada. O masoquismo é a forma de sexualização que amortece a ameaça de morte para o ego.

O problema irá se colocar na medida em que a exigência de sexualização, que nada mais seria do que o fato de que o ego tem que aquiescer em algumas das outras catexias objetais do id; tem, por assim dizer que participar delas (Freud, 1923, p.61), encontra uma interdição que em Freud só pode ser enunciada a partir do complexo de Édipo. Tal será a relevância do complexo de Édipo (ver também: complexo de Édipo feminino) na formação do superego: reencenar uma interdição, neste caso externa, de uma interdição mais primordial quanto aos objetos da pulsão que é o próprio pressuposto do narcisismo. Em lugar do medo de morte se impõe a ameaça de castração.

A necessidade de atualização do masoquismo primordial pelo outro é a condição que dá relevância ao Édipo uma vez que é através de seus protagonistas que se encena pela primeira vez o aspecto traumático do desejo: desejo de um objeto impossível que no Édipo se coloca como objeto interdito.

É neste sentido que da condição primordialmente masoquista (o masoquismo erógeno) Freud deriva as duas outras formas que podemos examinar: o masoquismo feminino e o masoquismo moral.

Essas duas formas de masoquismo são atravessadas em alguma medida pela questão edípica. O que se torna patente é a necessidade da constituição de um agente externo que venha atualizar a condição masoquista primordial.

No masoquismo feminino teríamos essas condições encenadas a partir de uma pessoa amada. Esse é o fator essencial que permite a fantasia de ser devorado, espancado, castrado ou copulado (n.7) se exercer de forma a trazer algum tipo de satisfação diretamente sexual. É a sexualização do que é regido pela ameaça de castração, ou melhor, é a sexualização da própria ameaça de castração encenada como efetivando-se a partir de uma recusa explícita por parte do ego da renúncia exigida.

Quanto ao masoquismo moral, perde-se a vinculação sexual que marca o masoquismo feminino e com isso, o elemento mais importante passa a ser o puro sofrimento, sem ligação com qualquer satisfação diretamente sexual. E é neste masoquismo que o superego volta a brilhar a partir de sua vinculação com a interdição paterna.

Surge então uma plausível justificativa para a pregnância e lugar de poder que são atribuídos para a 'introjeção' da lei paterna: o complexo de Édipo tem como função encarnar na figura do pai interditor a ameaça superegóica.

A satisfação egóica se realiza nessa repetição que envolve o outro como agente da exigência superegóica. Repetição, pois, trata-se de reencenar a dissimetria intrínseca do psiquismo, onde o ego é francamente dominado pela questão pulsional. É necessário um outro para encenar e corporificar essa crueldade, pois no complexo de Édipo não é a interdição que está em jogo, é a interdição imposta em vista da própria ira do outro.

Dentro desta lógica, se por um lado o pai comparece como figura privilegiada, onde o drama do Édipo tem seu valor estrutural na medida em que é aí que se encena a questão pela primeira vez na história do sujeito, não é apenas a ele que tal mecanismo se produz. O sadismo superegóico vem a ser encarnado na figura parental ou em qualquer outra que possa exercer algum tipo de autoridade. Em última instância, essa impessoalidade é corporificada na figura do Destino.

O masoquismo moral tem a função de personificar a instância superegóica através de qualquer pacto que infira ao exterior o exercício de uma ordem que excede o domínio próprio do ego. O outro sádico, a autoridade paterna, a inflexibilidade do destino são formas privilegiadas de encarnação da condição própria do ego em relação à pulsão, que tem no superego a formação deste inimigo íntimo.

O pivô central deste enredo é sempre a posição inerente ao ego, que ela se exerça diante do superego ou diante da autoridade paterna, em ambos os casos (de exigência de sexualização ou exigência de renúncia da sexualização), é sua condição de devedor que está em jogo. Dívida que é própria de sua estrutura intermediária entre pulsão e objeto, enfim, dívida imposta pelo mecanismo narcísico de sua constituição.

masoquismo é a forma privilegiada de resposta ao inexorável da pulsão, e um dos poucos meios de preservação do narcisismo como sendo a estrutura que define o critério de exclusão/inclusão. O que temos em jogo é, acima de tudo, o modo de exclusão do ego narcísico, que, pela sua forma de organização, se mantém imputando a uma fonte externa aquilo que é interno à sua condição.


NOTAS
1. A característica inferida ao sistema Pré-Consciente-Consciente (Pcs-Cs.) em “O inconsciente” (Freud, 1915)  lhe designava uma ligação entre representação-coisa e representação-palavra. Essa característica se mantém em “O ego e o id” (1923) sendo, no entanto, conectada com o sistema perceptivo, uma vez que a representação-palavra só pode advir de percepções auditivas, ou seja, de palavras já ouvidas. Deste modo, temos a partir de 1923 o sistema perceptivo e o sistema consciente como um único sistema, o Pcpt.-Cs. (percepção-consciência);
2. Destacar a anterioridade da identificação na formação do ego, é na verdade esclarecer a origem do superego. Deste modo, optamos por transcrever a citação de Freud na íntegra mesmo que seu exame completo só se efetue na sequência de nossa apresentação;
3. Consideraremos esta identificação primordial inferida como originária do ideal do ego como sendo na verdade referida ao superego.  Tomamos essa liberdade na medida em que neste texto Freud usa indiscriminadamente os dois termos para posteriormente vir a incluir o ideal do ego como uma das funções da instância do superego;
4. Não podemos deixar de destacar que a ênfase na concepção de um superego arcaico foi uma das contribuições de Melanie Klein e que é preferencialmente retomado por Lacan com a devida indicação da origem. Esse superego arcaico seria designado como um superego materno;

5. O exemplo dado por Freud de uma tirada humorística seria a do criminoso que levado à forca numa segunda-feira, exclama: "Bem, a semana está começando otimamente!". (Freud, 1927, p. 189);

6. A mesma questão já havia sido colocada no texto sobre o narcisismo (1914) onde o represamento da libido era o responsável pela determinação das patologias psíquicas: na neurose, se a introversão da libido de objeto excedesse certo limite, e na psicose como um represamento da libido do ego (Cf. Freud, 1914);
7. O conteúdo dessas fantasias são denominados por Freud como "revestimentos psíquicos cambiantes" e correspondem às fases da libido: fase oral, anal-sádica, fálica e genital. (Freud, “O problema econômico do masoquismo”, 1924, p.205);


BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago, 1980:
____ Sobre o narcisismo: uma introdução (1914), vol. XIV.
____ O inconsciente (1915), Vol. XVI.
____ O ego e o id (1923), Vol. XIX.
____ O problema econômico do masoquismo (1924), vol. XIX.
____ O humor (1927), vol. XXI.
____ Novas conferências introdutórias sobre psicanálise (1933 [1932]), vol. XXIII.

http://www.isepol.com/ego_id.html
 
Laboratório de Ensino
O EGO E O ID (1923)

A segunda tópica

Andréa Martello
 
O panorama que se apresenta para o ego após a inferência da pulsão de morte passa a ser melhor configurado na segunda tópica. A pulsão é incluída no aparelho psíquico como a instância do id que marcará todo o funcionamento das outras instâncias: ego e superego. O aparelho psíquico será regido fundamentalmente pelo que é da ordem do pulsional ressaltando, desse modo, o aspecto econômico da metapsicologia como o mais relevante, submetendo a ele o aspecto tópico e o dinâmico.
A frágil condição do ego frente à compulsão à repetição bem como o esclarecimento do mecanismo de identificação formam os dois princípios básicos desta segunda tópica, ou seja: pulsão e identificação.
A característica fundamental da primeira tópica era a de colocar o ego numa vinculação estreita com a consciência, ou sistemaconsciente (Cs.), representando a instância recalcante por excelência. O movimento de Freud se encaminha para uma destituição cada vez maior da consciência em prol da dinâmica do inconsciente (cf. processo primário e processo secundário) a ponto de nos dizer que temos de admitir que a característica de ser inconsciente começa a perder significação para nós (Freud, S., 1923, p. 30).
Essa destituição se fará tanto para a consciência, entendida como sistema Cs. (Bewusstsein), quanto para a consciência em seu aspecto moral (Gewissen), de discernimento do que é certo, e portanto, culpabilidade, remorso, no desvio disto que é dado como o certo. O primeiro aspecto desta destituição será visto no exame daquilo que estrutura o ego, e o segundo aspecto com o exame da instância superegóica.
Freud subverte a concepção que liga as atividades mais nobres do psiquismo à consciência (Cs.) e à moral, mostrando-nos, primeiro, uma inteligência inconsciente que prescinde de qualquer atributo consciente para realizar articulações complexas e eficazes tais como o sonho, o ato falho, a repetição, o recalque e, segundo, subvertendo a construção que nos foi articulada com o ideal do ego em Psicologia das massas e análise do ego (Freud, 1921).
Neste texto, o investimento pulsional do narcisismo dava origem ao ideal do ego que, por sua vez, era articulado com os ideais de perfeição da cultura, produzindo com isto um núcleo de moralidade dentro do ego, um guardião da moral externa. Se por um lado esses ideais, em última instância, eram produzidos por um investimento pulsional excedente do narcisismo, por outro adquiriam uma certa autonomia por se vincularem à cultura, tornando-se deste modo uma instância superior de caráter recalcante para os investimentos pulsionais. A crítica desta estrutura consistia na denúncia de que esses ideais moralizantes advinham do elemento libidinal que constitui o psiquismo, não representando, deste modo, um discernimento superior de conduta, mas, antes, podendo ser subvertidos de acordo com o investimento libidinal.
O superego será pensado de forma totalmente original com relação ao ideal do ego de 1921. A estrutura do superego se apresenta com características bem marcantes e específicas que darão potência a problemas clínicos há muito expostos por Freud, tais como: a resistência, o sentimento de culpa inconsciente e a reação terapêutica negativa. O superego será pensado acima de tudo sob a perspectiva da incidência da pulsão de morte sobre o ego.
1 - A estrutura do ego
Na segunda tópica, o ego será uma instância marcada por três aspectos fundamentais:

1 - A paradoxal inferência de um 'sentimento inconsciente de culpa' - posto que por definição os sentimentos têm acesso direto ao sistema consciente (Cs.) - contribui para a destituição do critério da consciência como sendo o de uma atividade mental de natureza extremamente elevada. O sentimento inconsciente de culpa acarreta uma autocrítica e uma 'conscienciosidade' que no processo analítico se mostram inconscientes e inconscientemente produzem efeitos da maior importância (Freud, 1923, p. 41).

A natureza inconsciente da consciência moral reduz o papel da consciência enquanto sistema privilegiado do ego e define deste modo o ego consciente como sendo primeiro e acima de tudo um ego corporal (Freud, 1923, p. 41). A consciência (Cs.), a percepção a ela vinculada (n.1) e o acesso à motilidade formarão o núcleo do ego e o modo privilegiado pelo qual ele se diferencia do id. Esses aspectos farão do ego a instância responsável pelo teste de realidade (Freud, 1923, p. 72). Temos então, no que se refere à ligação entre o ego e a consciência, uma definição mais precisa na medida em que o ego consciente se define como um ego corporal, e o ego em sua estrutura geral (já que a ligação com a consciência não esgota sua definição) se define como uma projeção psíquica do ego corporal (Freud, 1923, p.40).

2 - O segundo aspecto fundamental da estrutura do ego foi derivado do esclarecimento do mecanismo melancólico de substituição do investimento objetal por uma identificação. O que antes era atribuído à melancolia e à neurose, é, portanto, ampliado e passa a determinar em grande parte a forma tomada pelo ego e que Freud designa com o nome de 'caráter'.

Dizer que o investimento libidinal do objeto é substituído pela identificação implica afirmar uma anterioridade deste investimento pulsional (ou seja, da instância do id) sobre a estruturação do ego pela via das identificações. O ego se desenvolve de um id indiferenciado. Reformula-se então a teoria do narcisismo afirmando que de início toda a libido está acumulada no id onde o ego tenta apoderar-se da libido que o id envia aos objetos: o narcisismo do ego é, assim, um narcisismo secundário, que foi retirado dos objetos (Freud, 1923, p.62). Temos então: "que o caráter do ego é um precipitado de catexias objetais abandonadas e que ele contém a história dessas escolhas de objeto" (Freud, 1923, p. 43-44).

A idéia fundamental que aqui é colocada diz respeito a caracterizar o investimento narcísico como uma retirada do investimento que era anteriormente dirigido aos objetos. Esse aspecto fornece ao processo de substituição de um investimento por uma identificação seu caráter de defesa, que será a principal característica do ego. A identificação será aquilo por meio do qual o ego tentará adquirir algum controle sobre os investimentos pulsionais. Ao se identificar com os objetos, o ego inibe o investimento real de tais objetos. No entanto, oferecer-se ao id como substituto do objeto, inibe o investimento real mas não cancela a exigência pulsional que então recairá sobre o ego.

O limite para a submissão do ego ao investimento pulsional é argumentado por Freud pela idéia temporal de um ego inicialmente fraco que se submete ao investimento objetal e que tem na identificação com esses objetos o único meio de influenciar o id no sentido de um abandono do investimento objetal. Posteriormente um ego mais fortalecido seria capaz de resistir à influência dos investimentos objetais e com isso teríamos então para o psiquismo uma situação de conflito mais delineada, ou seja, entre um ego coerente - erigido a partir do mecanismo de identificação - e o investimento pulsional que então sofrerá recalque.

3 - Ao mesmo tempo, se por um lado temos o investimento pulsional como aquilo que permite dar forma ao ego sendo mesmo anterior à ele, temos por outro lado a identificação caracterizada como um processo heterogêneo ao investimento pulsional. Essa heterogeneidade não significa que a identificação seja independente do investimento pulsional mas, apenas, que a natureza de seu mecanismo não é derivada da pulsão. Trata-se de um mecanismo fundamentado de maneira particular que, no entanto, vem se acoplar à questão do investimento pulsional. O privilégio da identificação acaba por dissolver o problema "energético" que nos fora apresentado no texto sobre o narcisismo referente à questão de como o ego sai de sua clausura narcísica, pois o objeto narcísico advém antes de tudo por identificação e não apenas por investimento pulsional.

Acreditamos que a particularidade do mecanismo de identificação se expressa pelo que é paradoxalmente apresentado por Freud em relação à anterioridade, seja da identificação, seja do investimento. O ego foi definido como um precipitado de investimentos objetais que foram abandonados e substituídos pela identificação, sendo este mecanismo a forma mais primordial de controle sobre os investimentos. No entanto a pregnância da primeira identificação se destaca de tal modo que, ao inverso do que foi dito antes, ela se mostra como anterior e autônoma em relação ao investimento objeta (n.2): 
Entretanto, seja o que for que a capacidade posterior do caráter para resistir às influências das catexias objetais abandonadas possa tornar-se, os efeitos das primeiras identificações efetuadas na mais primitiva infância serão gerais e duradouros. Isso conduz de volta à origem do ideal do ego; por trás dele jaz oculta a primeira e mais importante identificação de um indivíduo, a sua identificação com o pai em sua pré-história pessoal. Isso aparentemente não é, em primeira instância, a consequência ou resultado de uma catexia do objeto; trata-se de uma identificação direta e imediata, e se efetua mais primitivamente do que qualquer catexia de objeto. Mas as escolhas objetais pertencentes ao primeiro período sexual e relacionadas ao pai e à mãe parecem normalmente encontrar seu desfecho numa identificação desse tipo, que assim reforçaria a primária (Freud, 1923, p. 47 [grifo nosso] ).













A contradição das afirmativas sobre a anterioridade reflete, na verdade, uma diferença de estrutura daquilo que acontece como investimento e como identificação. Essa diferença não advém apenas, como foi dito antes, num tempo posterior onde um ego forte, já suficientemente constituído não mais se submete aos investimentos do id. Ela se coloca de saída, e disto resultará toda a pertinência e autonomia do superego.

Temos então a estrutura do ego montada sobre três vertentes: o que Freud define como o núcleo, ou seja, a partir da ligação com exterior, através do sistema Pcpt-Cs.; a relação com o id onde a identificação com os objetos pulsionais lhe fornece consistência; e por fim sua relação com o resíduo da identificação como mecanismo primitivo de sua formação: o superego.
Os três aspectos indicam o dinamismo com que as instâncias psíquicas operam na segunda tópica. O que é importante ressaltar é o estatuto particular destinado à instância representada pelo superego.

A consistência do ego advém de uma relação com os objetos do id que, uma vez adquirida, passa a sustentar um dualismo entre ego x id, e portanto uma estrutura de conflito psíquico semelhante ao da primeira tópica (consciência x inconsciente / ego x sexual). Na dinâmica das instâncias, o superego é pensado de forma a relativizar radicalmente o quadro da primeira tópica, fornecendo subsídios para se pensar a dissimetria do psiquismo de forma mais estrutural, onde o superego é tanto um representante do id quanto do mundo externo (Cf. Freud, 1924, p.208).
2 - O superego

Pensar o superego somente a partir do desfecho do complexo de Édipo torna obscura a elucidação de sua incidência. Tal concepção implica pensá-lo como uma identificação com a instância legiferante, uma identificação com o pai como lugar da lei ou da interdição, que por razões obscuras torna-se pulsional. Pensamos que é ao ideal do ego que se aplica tal raciocínio, pois é através de sua incidência que a lei externa é investida e vem se representar no psiquismo.

O tipo de lei que o superego vem representar é fundamentalmente a lei da pulsão em sua característica última e peculiar de relação com o objeto, ou seja, a pulsão enquanto, essencialmente, pulsão de morte. Deste modo a relação entre ego e superego permitirá vislumbrar os problemas que a pulsão de morte acarreta para a teoria do narcisismo.

O que temos que esclarecer é que Freud fornece duas origens para o superego, uma que remonta à identificação primordial (n.3) do ego e a outra derivada do complexo de Édipo. Sem dúvida há um privilégio por parte de Freud em falar do superego como herdeiro do complexo de Édipo, mas foi-lhe, de qualquer modo, necessário postular também uma origem mais arcaica (n.4). Essa origem mais arcaica é que nos permite melhor entender o aspecto pulsional do superego, que de alguma forma fica obscurecido pelo papel de lei ou proibição internalizada que ele vem a representar no desfecho do complexo de Édipo.

É necessário compreender o antagonismo estrutural que a pulsão de morte impõe à teoria do narcisismo e compará-lo com a problemática do complexo de Édipo, para então tentarmos entender a ligação feita por Freud entre a origem arcaica do superego e seu posterior reforço ao término do tal complexo.

As identificações ao término do complexo de Édipo são ressaltadas por Freud, pelo menos em "O ego e o id" (1923), como identificações secundárias, que se assemelham à identificação primordial, e que na verdade apenas a reforçam. A semelhança da identificação final do Édipo com a identificação originária do ego pode ser entrevista em sua diferença em relação àquelas que são referidas aos objetos de amor, ou como nos diz Freud: "essas identificações não são o que esperaríamos, visto que não introduzem no ego o objeto abandonado" (Freud, 1923, p. 47). Mesmo que as identificações ao fim do complexo de Édipo possuam em alguma medida um caráter de assimilação do objeto amado/odiado pelo ego, Freud não deixa de acrescentar a sutileza de que normalmente, o superego se afasta mais e mais das figuras parentais originais; torna-se, digamos assim, mais impessoal (Freud, 1933 [1932], p. 83).

Dar consistência à identificação, ou seja, identificar-se com alguma coisa é o que irá definir o ego como a 'história' de suas identificações, um precipitado de investimentos objetais abandonados. Ao superego cabe atualizar o momento mítico que antecede todo corpo tomado pelo ego na sucessão dos investimentos pulsionais. Sua função parece ser a de manter em suspenso a decantação das identificações por onde o ego vem adquirir consistência, e ao manter em suspenso essa decantação própria ao ego, manter o aspecto pulsional da identificação. A confluência da identificação como mecanismo originário do ego e a dependência intrínseca que esta possui com os objetos fornecidos pelo id é o que define o superego e o caracteriza como uma instância "intermediária" entre a estrutura do ego e as exigências do id.

O exame que Freud faz do humor pode ser um modo onde encontramos esclarecida essa vertente do superego (n.5). Em situações onde se espera que um ego devidamente identificado que diante de determinada situação produza os sinais de um afeto, que fique zangado, se queixe, expresse sofrimento, fique assustado ou horrorizado ou talvez, até mesmo desesperado (Freud, 1927, p. 190). tem-se um tirada humorística que expressa claramente um triunfo do narcisismo, na afirmação vitoriosa da invulnerabilidade do ego (Freud, 1927, p. 190). Neste caso o superego age de forma a permitir que as identificações às quais o ego deva responder fiquem suspensas, retirando o ego da temporização de sua história e lhe permitindo uma suspensão, mesmo que fictícia, de sua consistência.

O caso do humor vem nos mostrar a relação do superego com a identificação na medida em que ela é a matriz do ego e não o próprio ego, sendo neste aspecto que encontramos no texto sobre o humor a indicação do superego como o núcleo do ego (Freud, 1927, p. 192), o núcleo de sua constituição: pulsão e identificação.

Salvo a análise sobre o humor, onde temos em Freud uma abertura para outras possibilidades de se pensar o superego, teremos o exame mais pregnante realizado através do que é possível esclarecer sobre a desvantagem estrutural da instância egóica. Ao contrário da potência narcísica que o humor ressalta, a condição essencial de existência do ego se expressará por um inarredável sentimento de culpa. Na obra de Freud, o sentimento de culpa será a expressão última da irredutível incidência da pulsão.
3 - Pulsão de morte e narcisismo

Da plasticidade da libido se deriva o ego na medida em que ele pode se impor como objeto de amor. O movimento narcísico do ego de retirar libido dos objetos e transformá-la em libido narcísica resultará no que Freud denomina como uma libido dessexualizada. Isso seria possível devido à natureza da satisfação da pulsão sexual onde é fácil observar uma certa indiferença quanto ao caminho ao longo do qual a descarga se efetua, desde que se realize de algum modo (Freud, 1923, p. 60). A libido dessexualizada se caracteriza pelo abandono dos objetivos diretamente sexuais, que por ainda manter uma possibilidade de satisfação, permite a formação do ego.

Mesmo dessexualizada, esta energia ainda é libido na medida em que permanece cumprindo a finalidade de Eros que é a de unir e ligar, na medida em que auxilia no sentido de estabelecer a unidade, ou tendência à unidade, que é particularmente característica do ego (Freud, 1923, p. 61). Apesar de ainda permitir certa satisfação concomitante à possibilidade de formação do ego, essa dessexualização encontra seu limite, e deste limite vemos surgir a exigência superegóica. O superego surge em relação à problemática narcísica enquanto definida como uma dessexualização da libido.

Freud, em "O ego e o id" (1923) no capítulo entitulado As duas classes de pulsões (Freud, 1923,) através do exame do problema da dessexualização da libido no narcisismo, nos apresenta um aparelho psíquico de estrutura assimétrica, onde o superego é o produto da contraditória constituição do ego, ou seja, ele é a prova de verdade sobre a constituição do ego na medida em que ela se dá na íntima relação entre identificação e investimento objetal, e em cujo desenvolvimento posterior o ego tenta impor uma ruptura de elementos tão estritamente ligados. A dessexualização da libido exigida pelo narcisismo impõe a ruptura em relação à sua dependência ao investimento objetal, e o superego é a instância de cobrança desta dívida do ego (n.6).

Mais ainda, o ego tenda reduzir a plasticidade da libido oferecendo objetos específicos que obedeçam à sua coerência. Temos então o aspecto defensivo da identificação visando o controle da satisfação pulsional. Com isso o ego está trabalhando em oposição aos objetivos de Eros (Freud, 1923, p. 61). O superego comparece numa função de abalar as identificações reificadas do ego, ou como Freud nos diz, de um ego fortalecido: o ego que por meio da identificação ganhou controle sobre a libido é punido pelo superego por assim proceder, mediante a instrumentalidade da agressividade que estava mesclada com a libido (Freud, 1923, p. 71-72). Os termos de Freud recaem na hipótese de desfusão pulsional, onde a dessexualização da libido libera o componente de pulsão de morte que a ele estava fundido.

O paradoxo que se coloca como intrínseco à formação do ego diz respeito ao fato de que o narcisismo, em sua tentativa de unidade e coerência, produz em última instância o superego como reduto de incidência da pulsão de morte.

O superego é o representante da pulsão de morte na exata medida de uma identificação inflexível do ego com o objeto, e numa identificação que consista na dessexualização do investimento do objeto. O superego como cultura pura de pulsão de morte (Freud, 1923, p. 69) é encontrado, justamente, com referência à melancolia, que tem como principal característica a remodelação do ego pela via da identificação de acordo com o objeto perdido. A melancolia, que revelou a Freud a estrutura do ego, é aqui novamente usada para elucidar a natureza última do superego, cuja radicalidade pode inclusive levar à morte.
A exigência do superego surge da dessexualização da libido que, por sua vez, é o processo de constituição do narcisismo e, portanto, do próprio ego. Trata-se na exigência superegóica da exigência de uma renúncia impossível de ser cumprida, visto a dependência do ego em relação à libido, de onde resulta a construção de um antagonismo intrínseco ao aparelho psíquico. A existência do ego implica necessariamente na concomitante existência deste estranho agente crítico como testemunha da impostura quanto à autenticidade de sua autonomia. O superego é o último produto da problemática narcísica.

Comparemos a situação do ego na primeira tópica. O narcisismo foi definido como o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autopreservação (Freud, 1914, p. 90), como uma fusão das pulsões sexuais e autopreservativas realizada no momento inaugural do ego e posteriormente (salvo na psicose, neurose e melancolia) separadas o suficiente para que se estabelecesse uma escolha anaclítica de objeto. Na primeira tópica, a pulsão de autoconservação garante a existência e o poder do ego, sendo acrescida de libido no narcisismo, sem no entanto perder uma perspetiva de autonomia no desenvolvimento posterior do ego. A mesma configuração não se apresenta na segunda tópica devido, por um lado, ao novo dualismo pulsional e o radicalismo da pulsão de morte e por outro, ao esclarecimento da identificação, cuja procedência do objeto impõe uma dívida permanente ao ego.

Freud nos diz que o medo da morte é algo difícil de ser pensado na medida em que não há para a morte um registro no inconsciente. Partindo disto, apenas podemos pensar que o medo da morte é uma resistência do ego em abandonar o investimento libidinal narcísico. É de morte narcísica que estamos falando e a condição da relação da pulsão com os objetos exige em parte esta morte, cuja ameaça passa a se exercer através do superego. O preço pago pela constituição do ego se coloca então em termos de um sentimento de culpa, pois é exigido dele renunciar àquilo mesmo que o constitui. Como responder a uma exigência de sexualização da pulsão se a dessexualização é o modo próprio de constituição do ego? Essa é a fonte do sentimento de culpa e o masoquismo será então a resposta mais relevante a este impasse.
4 - O masoquismo e o problema moral

Foi necessário a Freud pensar a pulsão de morte a partir de questões quanto ao sucesso terapêutico da psicanálise. A pulsão de morte traz subsídios para o exame de uma grave questão quanto à clínica analítica na medida em que coloca em xeque a força de um desejo 'natural' de restabelecimento. O que comparece 'além do princípio do prazer', e que foi circunscrito pela instância superegóica na segunda tópica, é enunciado de maneira bastante dramática como O problema econômico do masoquismo (Freud,1925). A pulsão de morte desloca a problemática narcísica para a problemática do masoquismo e é o superego que fornece o modo de exame desta questão. Como produto do narcisismo no novo dualismo pulsional, o superego vem impor essa nova condição ao ego enquanto objeto da pulsão: o masoquismo. A desvantagem narcísica frente à pulsão de morte não pode ser enunciada de forma diferente que não seja através do masoquismo.

Essa inferência passa a colocar grandes questões para a clínica e esclarecer os impasses e limites encontrados pela manobra analítica. A vida e o prazer não são valores que se mantenham perante o desafio analítico.

A estrutura elementar do narcisismo submetido à pulsão de morte pode ser considerado como a primordial condição masoquista que Freud define como masoquismo erógeno (Cf. Freud, O problema econômico do masoquismo, 1924, p. 204). Podemos imputar que a exigência de sexualização do superego primitivo, que de alguma forma coloca como questão a morte do ego, tem como solução o masoquismo, uma tentativa última de obedecer a essa exigência tornando a condição do ego minimamente erotizada. O masoquismo é a forma de sexualização que amortece a ameaça de morte para o ego.

O problema irá se colocar na medida em que a exigência de sexualização, que nada mais seria do que o fato de que o ego tem que aquiescer em algumas das outras catexias objetais do id; tem, por assim dizer que participar delas (Freud, 1923, p.61), encontra uma interdição que em Freud só pode ser enunciada a partir do complexo de Édipo. Tal será a relevância do complexo de Édipo (ver também: complexo de Édipo feminino) na formação do superego: reencenar uma interdição, neste caso externa, de uma interdição mais primordial quanto aos objetos da pulsão que é o próprio pressuposto do narcisismo. Em lugar do medo de morte se impõe a ameaça de castração.

A necessidade de atualização do masoquismo primordial pelo outro é a condição que dá relevância ao Édipo uma vez que é através de seus protagonistas que se encena pela primeira vez o aspecto traumático do desejo: desejo de um objeto impossível que no Édipo se coloca como objeto interdito.

É neste sentido que da condição primordialmente masoquista (o masoquismo erógeno) Freud deriva as duas outras formas que podemos examinar: o masoquismo feminino e o masoquismo moral.

Essas duas formas de masoquismo são atravessadas em alguma medida pela questão edípica. O que se torna patente é a necessidade da constituição de um agente externo que venha atualizar a condição masoquista primordial.

No masoquismo feminino teríamos essas condições encenadas a partir de uma pessoa amada. Esse é o fator essencial que permite a fantasia de ser devorado, espancado, castrado ou copulado (n.7) se exercer de forma a trazer algum tipo de satisfação diretamente sexual. É a sexualização do que é regido pela ameaça de castração, ou melhor, é a sexualização da própria ameaça de castração encenada como efetivando-se a partir de uma recusa explícita por parte do ego da renúncia exigida.

Quanto ao masoquismo moral, perde-se a vinculação sexual que marca o masoquismo feminino e com isso, o elemento mais importante passa a ser o puro sofrimento, sem ligação com qualquer satisfação diretamente sexual. E é neste masoquismo que o superego volta a brilhar a partir de sua vinculação com a interdição paterna.

Surge então uma plausível justificativa para a pregnância e lugar de poder que são atribuídos para a 'introjeção' da lei paterna: o complexo de Édipo tem como função encarnar na figura do pai interditor a ameaça superegóica.

A satisfação egóica se realiza nessa repetição que envolve o outro como agente da exigência superegóica. Repetição, pois, trata-se de reencenar a dissimetria intrínseca do psiquismo, onde o ego é francamente dominado pela questão pulsional. É necessário um outro para encenar e corporificar essa crueldade, pois no complexo de Édipo não é a interdição que está em jogo, é a interdição imposta em vista da própria ira do outro.

Dentro desta lógica, se por um lado o pai comparece como figura privilegiada, onde o drama do Édipo tem seu valor estrutural na medida em que é aí que se encena a questão pela primeira vez na história do sujeito, não é apenas a ele que tal mecanismo se produz. O sadismo superegóico vem a ser encarnado na figura parental ou em qualquer outra que possa exercer algum tipo de autoridade. Em última instância, essa impessoalidade é corporificada na figura do Destino.

O masoquismo moral tem a função de personificar a instância superegóica através de qualquer pacto que infira ao exterior o exercício de uma ordem que excede o domínio próprio do ego. O outro sádico, a autoridade paterna, a inflexibilidade do destino são formas privilegiadas de encarnação da condição própria do ego em relação à pulsão, que tem no superego a formação deste inimigo íntimo.

O pivô central deste enredo é sempre a posição inerente ao ego, que ela se exerça diante do superego ou diante da autoridade paterna, em ambos os casos (de exigência de sexualização ou exigência de renúncia da sexualização), é sua condição de devedor que está em jogo. Dívida que é própria de sua estrutura intermediária entre pulsão e objeto, enfim, dívida imposta pelo mecanismo narcísico de sua constituição.

masoquismo é a forma privilegiada de resposta ao inexorável da pulsão, e um dos poucos meios de preservação do narcisismo como sendo a estrutura que define o critério de exclusão/inclusão. O que temos em jogo é, acima de tudo, o modo de exclusão do ego narcísico, que, pela sua forma de organização, se mantém imputando a uma fonte externa aquilo que é interno à sua condição.


NOTAS
1. A característica inferida ao sistema Pré-Consciente-Consciente (Pcs-Cs.) em “O inconsciente” (Freud, 1915)  lhe designava uma ligação entre representação-coisa e representação-palavra. Essa característica se mantém em “O ego e o id” (1923) sendo, no entanto, conectada com o sistema perceptivo, uma vez que a representação-palavra só pode advir de percepções auditivas, ou seja, de palavras já ouvidas. Deste modo, temos a partir de 1923 o sistema perceptivo e o sistema consciente como um único sistema, o Pcpt.-Cs. (percepção-consciência);
2. Destacar a anterioridade da identificação na formação do ego, é na verdade esclarecer a origem do superego. Deste modo, optamos por transcrever a citação de Freud na íntegra mesmo que seu exame completo só se efetue na sequência de nossa apresentação;
3. Consideraremos esta identificação primordial inferida como originária do ideal do ego como sendo na verdade referida ao superego.  Tomamos essa liberdade na medida em que neste texto Freud usa indiscriminadamente os dois termos para posteriormente vir a incluir o ideal do ego como uma das funções da instância do superego;
4. Não podemos deixar de destacar que a ênfase na concepção de um superego arcaico foi uma das contribuições de Melanie Klein e que é preferencialmente retomado por Lacan com a devida indicação da origem. Esse superego arcaico seria designado como um superego materno;

5. O exemplo dado por Freud de uma tirada humorística seria a do criminoso que levado à forca numa segunda-feira, exclama: "Bem, a semana está começando otimamente!". (Freud, 1927, p. 189);

6. A mesma questão já havia sido colocada no texto sobre o narcisismo (1914) onde o represamento da libido era o responsável pela determinação das patologias psíquicas: na neurose, se a introversão da libido de objeto excedesse certo limite, e na psicose como um represamento da libido do ego (Cf. Freud, 1914);
7. O conteúdo dessas fantasias são denominados por Freud como "revestimentos psíquicos cambiantes" e correspondem às fases da libido: fase oral, anal-sádica, fálica e genital. (Freud, “O problema econômico do masoquismo”, 1924, p.205);


BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago, 1980:
____ Sobre o narcisismo: uma introdução (1914), vol. XIV.
____ O inconsciente (1915), Vol. XVI.
____ O ego e o id (1923), Vol. XIX.
____ O problema econômico do masoquismo (1924), vol. XIX.
____ O humor (1927), vol. XXI.
____ Novas conferências introdutórias sobre psicanálise (1933 [1932]), vol. XXIII.

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